POLICIAL
Reeducandos contam como pretendem aproveitar os cursos quando ganharem liberdade
Empreender tem se tornado uma realidade entre muitos brasileiros. Segundo uma pesquisa da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), o Brasil está em 7º lugar no ranking de empreendedorismo em uma escala de 50 países. Um dos maiores motivos para que empreender seja a opção de muitas pessoas é a falta de oportunidade no mercado de trabalho.
O motivo vai muito além, quando se trata de pessoas privadas de liberdade. Elas não só têm de lidar com a falta de emprego, mas também com o preconceito por já terem vivido atrás das grades e o despreparo no âmbito profissional. Pensando nisso, a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP), tem firmado cada vez mais parcerias com instituições que se empenham em dar a oportunidade ao apenado para se preparar para quando se tornarem egressos.
O Centro de Ressocialização (CR) de Sumaré, por exemplo, é uma das 9 unidades prisionais que estão com curso de empreendedorismo em andamento. Há planos para que a parceria seja firmada com outros 11 estabelecimentos penais pertencentes à região central. Recentemente, 30 reeducandos do CR fizeram parte do projeto Reescrevendo a Minha História, em parceria com o Sebrae.
É o caso de Sebastião Gonçalves*, de 42 anos. Ele está no sistema há cinco anos. Antes de ser preso, trabalhava como caminhoneiro há 12. Com três filhos, ao fazer parte do sistema, sempre procurou trabalhar para manter a família – conseguindo uma oportunidade de trabalhar no semiaberto fazendo tatames. Gonçalves conta que já se planeja para quando voltar a viver em liberdade. Vai retomar o seu negócio como motorista, porém, com uma grande experiência na teoria, já que antes tinha só a prática.
Com o Ensino Médio completo, Gonçalves conta que com o curso, ele aprendeu a administrar melhor o dinheiro e que pretende comprar e investir. Antes, não sabia organizar as finanças, nem tinha o hábito de anotar o que precisava pagar ou comprar. Ao concluir o curso, Gonçalves disse que se sentiu encorajado a empreender.
“Pretendo comprar outros caminhões e dar valor à contabilidade”, diz Gonçalves se referindo a registrar o seu negócio.
Ele, que já trabalhava desde os 18 anos, relata que tinha uma rotina bem agitada. Passava mais tempo fora, que dentro de casa, ficando com a família apenas os finais de semana. Até que em um determinado momento, foi preso por furto. Arrependido por ter se tornado um mau exemplo para os filhos, ele aproveita as saídas temporárias para conversar com eles e incentivá-los a não entrar no mundo do crime.
Já Ronildo Lopes* de 39 anos, trabalhava com o pai como corretor de imóveis. Com os dias contados no sistema prisional por ser detido por não pagar pensão alimentícia, já se sente motivado em abrir o seu próprio negócio. Diz que vai investir, com outro colega de cela – detido pelo mesmo motivo – cuja família já tem um negócio no ramo de telefonia celular.
O projeto
Segundo Joyce Silva dos Santos, gestora do Programa Sebrae Comunidades, o tema Reescrevendo a Minha História foi desenvolvido para atender à necessidade dos empreendedores e potenciais empreendedores em situação de vulnerabilidade social e visa preparar essas pessoas para serem donos de sua história, mostrando o empreendedorismo como uma opção para geração de renda. A capacitação tem a duração de 24 horas, divididas em aulas de 4 horas, totalizando 6 dias de curso. Com temas como Empreendedorismo e Comportamento Empreendedor, Inteligência Emocional, Conceitos Básicos de Marketing, Finanças Pessoais e Empresariais, Planejamento de Novos Negócios e Inovação, o CR encerrou uma turma e abrirá mais 10 até dezembro.
A parceria firmada com o Sebrae é uma iniciativa da Fundação Dr. Manoel Pedro Pimentel (Funap).
*obs: foram usados nomes fictícios para não identificar os presos
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